M. J. Olgin
Tradução: Red Yorkie

A Base Social e a Lógica do Trotskismo (1935)

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Moissaye J. Olgin (n. 1878-1939) foi um jornalista revolucionário judeu-ucraniano. Ele imigrou para os Estados Unidos vindo da Alemanha em 1915, incapaz de retornar devido à guerra e, desde então, trabalhou como correspondente estrangeiro especial para o Pravda na União Soviética, além de colaborar com vários jornais e organizações estadunidenses. Em 1922, ele fundou The Morning Freiheit, onde atuou como editor até morrer.

Estes são trechos do livro de Olgin Trotskismo: Contrarrevolução Disfarçada (1935). Vale a pena ler o livro inteiro, mas achei que alguns trechos poderiam interessar os leitores a fazerem isso.

Os primeiros dois segmentos são do capítulo 2 (“A Base Social do Trotskismo”), o terceiro, do capítulo 4 (“Socialismo em Um Só País”), e o último, do capítulo 5 (“A Revolução dos Camponeses”). [1]


O trotskismo não é algo que envolva apenas uma pessoa. Não é uma peculiaridade de um indivíduo. O trotskismo é um fenômeno social. O fato de Trotsky ter participado na revolução acrescenta um certo prestígio a suas falas aos olhos dos incautos. Neste caso, assim como em muitos outros, o elemento pessoal não pode ser ignorado. Mas mesmo se Trotsky não existisse, o tipo de oposição à revolução que ele representa encontraria seus defensores. O trotskismo ressurge em cada etapa do movimento revolucionário porque é a expressão da atitude de uma determinada classe, a saber, a pequena burguesia.

[…]

O fato de que ele não é nem um comerciante nem um pequeno artesão não deve dissuadir aqueles que não estão familiarizados com a interpretação marxiana dos movimentos sociais. Não se deve supor, diz Marx, que aqueles que representam a pequena burguesia “sejam todos comerciantes ou apoiadores entusiastas da classe dos donos de pequenos comércios”:

Por sua formação e situação individual, mundos podem estar separando os dois. O que os transforma em representantes do pequeno-burguês é o fato de não conseguirem transpor em suas cabeças os limites que este não consegue ultrapassar na vida real e, em consequência, serem impelidos teoricamente para as mesmas tarefas e soluções para as quais ele é impelido na prática pelo interesse material e pela condição social. Essa é, em termos gerais, a relação entre os representantes políticos e literários de uma classe e a classe que representam. [2]

[…]

A negação da possibilidade do socialismo em um só país é a base de todas as ideias e políticas do trotskismo. Essa negação, por sua vez, é composta por duas premissas principais:

  1. A negação da possibilidade de uma revolução proletária vitoriosa em um só país quando não há revolução simultânea em um ou vários outros países;
  2. A negação da possibilidade de construir o socialismo em um só país onde uma revolução proletária tenha ocorrido — caso não haja nenhuma revolução simultânea em outros países.

Isso vai de encontro aos fatos históricos e contradiz a própria essência do entendimento leninista da revolução proletária.

[…]

A partir de uma premissa equivocada, o que se segue são várias conclusões contrarrevolucionárias que constituem as principais características do trotskismo:

  1. Sua base é: a impossibilidade do socialismo em um só país;
  2. Por isso — a afirmação de que o que está acontecendo na União Soviética não é socialismo;
  3. Por isso — a conclusão de que o que está sendo construído na Rússia é um “socialismo nacional”;
  4. Por isso — a conclusão de que o governo “socialista nacional” da União Soviética é “termidoriano”, isto é, contrarrevolucionário, e se contrapõe à revolução mundial;
  5. Por isso — a afirmação de que a Internacional Comunista, que é dominada pelo Partido Comunista da União Soviética, que é o partido do “socialismo nacional”, está bloqueando o caminho para a revolução mundial;
  6. Por isso — a conclusão de que a necessidade premente do proletariado mundial é construir uma “quarta internacional” a ser liderada pelo “grande estrategista” da revolução, Leon Trotsky.
  7. Decorre do acima exposto que o apoio à intervenção e o assassinato de lideranças soviéticas são atos revolucionários.

Como vocês podem ver, há lógica nesses desvarios. Todos eles seguem a inevitabilidade férrea da fonte da negação trotskista do socialismo em um só país. Não é culpa dos trotskistas se eles não conseguem fazer frente aos fatos históricos.


[1] M. J. Olgin, 1935. Trotskismo: Contrarrevolução Disfarçada. [web] 

[2] Karl Marx, 1852. O 18 de Brumário de Luís Bonaparte. NT: A tradução deste trecho foi retirada da pág. 64 da edição brasileira de O 18 de Brumário de Luís Bonaparte, traduzido por Nélio Schneider e publicado pela Editora Boitempo (2011).